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Cabeça dinossauro

'Ainda é um álbum atual', diz Charles Gavin sobre 'Cabeça dinossauro'

Ex-baterista do Titãs conversa sobre o álbum nesta terça (5), no Rio.
De acordo com músico, banda deve reunir ex-integrantes para shows.

Henrique Porto, no Rio

O músico e pesquisador Charles Gavin (Foto: Alexandre Durão/G1)
O músico e pesquisador Charles Gavin (Foto:
Alexandre Durão/G1)
 
Influências de The Clash, Gang of Four, Talking Heads, Ramones e New Order. Repertório quase todo gravado "ao vivo" no estúdio. Letras ácidas e diretas criticando o estado capitalista, família, religião e polícia. Tudo embalado por esboços de Leonardo Da Vinci. "Foi a nossa declaração dos Direitos Humanos", define Charles Gavin, ex-baterista dos Titãs que vai conversar sobre o terceiro e talvez mais cultuado álbum da banda a partidas das 20h desta terça (5), no espaço multicultural Miranda, na Lagoa, Zona Sul do Rio.
O bate-papo inaugura a série Grandes Nomes, Grandes Discos, que vai abordar, ao longo dos próximos meses, importantes músicos e discos brasileiros — Moraes Moreira e Léo Jaime são alguns dos próximos convidados. Com mediação do pesquisador Fred Coelho, o encontro vai contar ainda com a participação da dupla Letuce (formada pelos músicos Letícia Novaes e Lucas Vasconcelos), que fará releituras de algumas das canções do álbum gravado em 1986.
Gavin é cuidadoso ao reconstruir o período em que "Cabeça dinossauro" foi concebido, motivo que, segundo ele, contribuiu de maneira decisiva para o processo criativo que culminou com a gravação do álbum.
"'Cabeça dinossauro' foi elaborado e gravado dentro de uma série de circunstâncias. O rock brasileiro já era uma realidade em meados dos anos 80. Além disso, álbuns importantes, como 'Legião Urbana', 'O passo do Lui' (Paralamas do Sucesso) e 'Nós vamos invadir sua praia' (que marcou a estreia do Ultraje a Rigor) haviam sido lançados ainda na primeira metade da década. A banda precisava dar um passo à frente artiticamente, como se fosse necessário falar sobre coisas mais importantes", comenta Charles Gavin.
Adicione à equação os ingredientes "raiva e "agressividade", uma reação, segundo o músico, ao episódio policial que resultou na prisão de Arnaldo Antunes e de Tony Bellotto por porte de heroína, em 1985. "Aquilo foi explorado à exaustão. Foi algo totalmente arbitrário e injusto. Só aumentou nossa revolta com relação a diversos temas. A canção 'Estado violência' é uma das consequências do que aconteceu."
Outras mudanças também pontuaram o trabalho da banda, tecnicamente falando. Foi "Cabeça dinossauro" que ajudou a banda a transpor o "som de palco" do grupo para o estúdio. Mérito dos produtores Liminha, do Peninha e do Vítor Farias, segundo Charles Gavin.
"Eu, Nando (Reis), Marcelo (Frommer) e Tony tocamos juntos o tempo todo. Quase todo o disco foi gravado assim, o que é bastante incomum. Fomos para o estúdio com essa missão. Além disso, nossa linguagem se tornou mais direta. As letras têm pouquíssimas metáfortas. São básicas e servem para uma série de questões hoje em dia. Infelizmente ainda é um álbum atual", destaca o músico.
Capa do álbum 'Cabeça dinossauro', de 1986 (Foto: Reprodução)
Capa do álbum 'Cabeça dinossauro', de 1986
(Foto: Reprodução)
Reunião
"Cabeça dinossauro" chega agora às lojas reeditado em edição de luxo. O CD, agora duplo, inclui o álbum original e um disco-bônus com versões demo de todas as músicas. O destaque é a faixa inédita "Vai pra rua", que acabou ficando de fora do projeto — foi substituída por "Porrada".
Já Paulo Miklos (voz e guitarra), Branco Mello (voz e baixo), Sergio Britto (voz, teclado e baixo) e Tony Bellotto (guitarra), integrantes remanescentes do Titãs, seguem em turnê celebrando os 30 anos do conjunto — o grupo faz show nesta sexta (9), no Circo Voador, no Rio. Para festejar em sintonia com os fãs, decidiram tocar "Cabeça..." ao vivo, na íntegra.
"Claro que dá vontade de me juntar a eles. Porque é um repertório muito bom de tocar. Mas nossa reunião deve acontecer no segundo semestre", adianta Gavin, que explica: "A ideia partiu deles, que agora formam efetivamente a banda. Eu e Arnaldo Antunes já confirmamos, mas ainda não sei como a coisa está com o Nando (Reis). O ideal é que esteja todo mundo junto.Vai acontecer à medida em que escolhermos datas e verificarmos a disponibilidade de agenda de todos. Qual será o tamanho dessa turnê eu não sei, mas estou absolutamente disponível para isso", afirma o músico, com um sorriso que denuncia a alegria por um provável reencontro com os ex-companheiros.
Também está previsto para o segundo semestre o projeto de Gavin com os músicos Dado Villa-Lobos (ex-lewgião Urbana), Tony Platão e Dé Palmeira (ex-Barão Vermelho). Ainda sem nome, a banda promete tocar apenas versões em português para canções do pop rock latino-americano.
"Esta foi uma ideia do Tony e do Canal Brasil. Vamos gravar um disco e um DVD. Esaiamos toda a semana. Mas já avisei: a reunião com os Titãs eu não vou perder", brinca o baterista.

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